XLVI - A Alba espiritual
Quando dos debochados o arrebol rosado
Faz sociedade com o Ideal que é roedor,
Mediante operação de arcano vingador
Na besta adormecida um anjo é despertado.
Dos Céus Espirituais o azul inebriante,
Para o homem arrasado que ainda pena e sonha,
Se abre e se aprofunda com atração medonha.
Assim, Deusa querida, Ser puro e brilhante,
Em restos fumegantes de estúpida orgia,
Tua lembrança mais clara, mais rósea, exemplar,
Aos meus olhos bem grandes gira sem parar.
O sol escureceu das velas a luz fria;
Assim, vencedor sempre, o teu vulto é igual,
Alma resplandecente, a esse sol imortal!
BAUDELAIRE, Charles. Flores do Mal. Tradução de Mario Laranjeira. 2ª Reimpressão. Editora Martin Claret. São Paulo, 2014.
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