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domingo, 26 de março de 2017

Spleen e Ideal - Charles Baudelaire.

LXXII - O morto alegre

Numa terra bem fértil, de lesmas povoada,
Quero cavar eu mesmo uma fossa profunda,
Onde eu possa à vontade esparramar a ossada
E no olvido dormir qual cação na água funda.

Testamentos detesto como as sepulturas;
Antes do que implorar uma lágrima ao mundo,
Vivo, iria chamar os corvos das alturas,
Para sangrar as pontas do meu corpo imundo.

Ó vermes! Sem orelhas e olhos, companheiros,
Olhai a vós chegar morto faceiro absorto;
Filósofos patuscos, da carniça herdeiros,

Pela minha ruína ide, pois, sem agrura,
E dizei-me se ainda há alguma tortura
Pra este corpo sem alma, em meio aos mortos, morto.

BAUDELAIRE, Charles. Flores do Mal. Tradução de Mario Laranjeira. 2ª Reimpressão. Editora Martin Claret. São Paulo, 2014.

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