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domingo, 5 de março de 2017

O veneno - Spleen e Ideal - Charles Baudelaire

XLIX - O veneno

Sabe o vinho vestir o covil mais imundo
De um luxo miraculoso,
E faz surgir mais de um pórtico fabuloso
No ouro rubro e vaporoso,
Tal como um sol ao fim de céu profundo.

O ópio aumenta aquilo que não tem limites,
Alonga o que não tem fim,
Torna o tempo mais fundo, escavando apetites,
E de prazer negro e ruim
A alma enche muito além do que ela permite.

Tudo isso não vale o veneno brotando
Dos teus olhos, olhos verdes,
Lagos onde minha alma treme e tudo inverte...
Meus sonhos chegam em bandos
Pra se desalterar nesses pegos nefandos.

Tudo isso não vale essa terrível sorte
Da tua saliva que morde,
Que a minha alma ao olvido atira sem piedade
E acarretando a insanidade,
A rola moribunda às beiradas da morte.

BAUDELAIRE, Charles. Flores do Mal. Tradução de Mario Laranjeira. 2ª Reimpressão. Editora Martin Claret. São Paulo, 2014.

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