LXIV – Soneto de outono
Ele diz, teu olhar, claro como cristal:
“Por ti, bizarro amante, que mérito eu teria?”.
- Sê charmosa e te cala! O coração que irrita
Tudo menos o antigo candor animal,
Não quer mostrar-te o seu segredo infernal,
Cantiga de ninar cuja mão ao sono invita,
Nem a negra legenda com a chama escrita.
Eu odeio a paixão e o espírito faz mal!
Amemo-nos suave. O amor em sua guarita,
Tenebroso, emboscado, tende o arco fatal.
Conheço esses engenhos e o velho arsenal:
Crime, loucura, horror! Pálida margarida!
Como eu tu não és nenhum sol outonal,
Ó minha branca, ó minha fria Margarida?
BAUDELAIRE, Charles. Flores do Mal. Tradução
de Mario Laranjeira. 2ª Reimpressão. Editora Martin Claret. São Paulo, 2014.
Nenhum comentário:
Postar um comentário