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domingo, 5 de março de 2017

Céu turvado - Spleen e Ideal - Charles Baudelaire

L - Céu turvado

Dir-se-ia teu olhar de um vapor ocultado;
Teu olho misterioso (é azul, cinza, esverdeado?)
Alternativamente doce, cruel, ao léu,
Refletindo a indolência e o palor do céu.

Lembras os dias brancos, mornos e velados,
Que em pranto fundem corações enfeitiçados,
Quando os agita mal incógnito e premente,
Nervos despertos zombam da alma dormente.

Assemelhas, assim, horizontes sem véu
A que alumiam sóis das estações brumosas...
Como resplandeceis, paisagens chuvosas,
A que afogueia a luz de um já toldado céu!

Ó mulher perigosa, ó climas sedutores!
Adorarei assim tuas neves e rigores,
E saberei tirar do inverno mais severo
Prazeres mais agudos que o gelo e o ferro?

BAUDELAIRE, Charles. Flores do Mal. Tradução de Mario Laranjeira. 2ª Reimpressão. Editora Martin Claret. São Paulo, 2014.

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