LXXI – Uma gravura fantástica
Tem o espectro tão raro por traje completo,
Grotescamente posto à fronte de esqueleto,
Só a diadema horroroso a carnaval cheirando,
Sem espora ou chicote, um cavalo esfalfando,
Um fantasma também, pangaré apocalíptico,
Que baba das narinas como um epiléptico,
Pelo espaço os dois vão, em busco do futuro,
E pisam o infinito com casco inseguro.
O cavaleiro um sabre reluzente passa
Sobre a plebe sem nome que o cavalo amassa,
E percorre, qual príncipe olhando a mansão,
Do cemitério imenso a fria solidão,
Onde jazem, do sol sob a luz branca e terna,
As pessoas da história antiga e da moderna.
BAUDELAIRE, Charles. Flores do Mal. Tradução
de Mario Laranjeira. 2ª Reimpressão. Editora Martin Claret. São Paulo, 2014.
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