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sábado, 11 de março de 2017

Spleen e Ideal - Charles Baudelaire.

LIII - Convite à viagem

Minha filha e irmã,
Vê, coisa louçã,
Juntos levarmos a vida!
Amar com lazer,
Amar e morrer
Na terra a ti parecida!
Esses sóis molhados
Desses céus toldados
Têm para minha alma encantos
Tão pertubadores
Dos olhos traidores.
Brilhando através dos prantos.

Lá, tudo é ordem, beldade,
Luxo e voluptuosidade.

Uns móveis polidos
Por anos seguidos,
Decorariam o quarto;
As mais raras flores
Mesclam seus odores
Do âmbar ao perfume farto,
Os tetos suntuosos,
Espelhos grandiosos,
O esplendor oriental,
Tudo ali diria
À alma arredia
Sua doce língua natal.

Lá, tudo é ordem, beldade,
Luxo e voluptuosidade.

Vê nos canais rasos
Dormir esses vasos
Cujo humor é vagabundo;
É pra saciar
O teu desejar
Que eles vêm do fim do mundo.
-Esses sóis poentes
Vestem as vertentes,
Os canais, toda a cidade,
De ouro e de jacinto;
O mundo dormindo
Está em quente claridade.

Lá, tudo é ordem, beldade,
Luxo e voluptuosidade.

BAUDELAIRE, Charles. Flores do Mal. Tradução de Mario Laranjeira. 2ª Reimpressão. Editora Martin Claret. São Paulo, 2014.

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