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sábado, 25 de março de 2017

Spleen e Ideal - Charles Baudelaire.

LXII - Moesta et errabunda¹

Diz-me, Ágata, às vezes teu coração voa
Longe do negro oceano da imunda cidade,
Para um outro oceano que o esplendor povoa,
Azul, claro, Ágata, às vezes teu coração voa?

O mar, o vasto mar, nos consola os labores!
Que demônio dotou o mar de rouco canto
A que acompanha o órgão do vento em rancores,
Dessa função alta e sublime de acalanto?
O mar, o vasto mar, nos consola os labores!

Carrega-me, vagão! Sequestra-me, fragata!
Longe! Longe! Aqui a lama é feita de clamores!
- É verdade que, às vezes, teu coração de Ágata
Diz: Longe dos crimes, remorsos e dores,
Carrega-me, vagão! Sequestra-me, fragata?

Tão longe como estais, ó éden perfumado,
Onde sob claro azul tudo é amor e alegria,
Onde tudo o que se ama é justo ser amado,
Onde em pura volúpia a alma se inebria!
Tão longe como estais, ó éden perfumado!

Mas aquele éden verde das paixões meninas,
As corridas, canções, beijos e ramalhetes,
Os violinos vibrando por trás das colinas,
Com canecas de vinho, à noite nos bosquetes,
- Mas aquele éden verde das paixões meninas,

O éden inocente, em seus furtivos gozos,
Está já mais lonjínquo que a Índia ou a China?
Talvez possa chamá-lo com gritos chorosos,
E animá-lo de novo com voz argentina,
O éden inocente, em seus furtivos gozos?

BAUDELAIRE, Charles. Flores do Mal. Tradução de Mario Laranjeira. 2ª Reimpressão. Editora Martin Claret. São Paulo, 2014.

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