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sexta-feira, 31 de março de 2017

LXXVII - Spleen

*O nome do poema é "Spleen" então, para diferenciar dos demais, apenas o nome do poema ficará como título e o número do poema.
*Há 4 poemas de nome "Spleen" na seção "Spleen e Ideal", então o diferencial será o número do poema como venho também o enumerando aqui no blog.

LXXVII - Spleen

Eu sou como o monarca de país chuvoso,
Rico, mas impotente, jovem, mas idoso,
Que, dos seus mestres desprezando os vãos caprichos,
Se enfada com seu cão e com os outros bichos.
Nada o pode alegrar, nem caça, nem falcão,
Nem seu povo morrendo face ao seu balcão.
Do bufão favorito a grotesca balada
Do doente não distrai a fronte já enrugada;
Em tumba se transforma o seu leito florido
E as damas para quem todo príncipe é lindo,
Buscam em vão um traje que, nada discreto,
Possa tirar sorriso do jovem esqueleto.
O sábio que lhe faz ouro não tem podido
De seu ser extirpar o que há de corrompido,
E nos banhos de sangue que Roma legou,
De que cada velhinho sempre se lembrou,
Não soube reaquecer o cadáver inerte
Onde corre, não sangue, mas a água do Letes¹.

BAUDELAIRE, Charles. Flores do Mal. Tradução de Mario Laranjeira. 2ª Reimpressão. Editora Martin Claret. São Paulo, 2014.

¹Na mitologia grega, Letes, localizado no mundo ctônio, era o rio de cujas águas bebiam os mortos para se esquecerem da vida anterior. o termo lete provém de um verbo grego que significa "esquecer". (N. do E.)

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