LXVI – Os gatos
Os amantes febris e os sábios austeros
Amam igual, chegando à madura estação,
Os gatos meigos, fortes, da casa eles são
O orgulho, e assim como eles, friorentos, caseiros.
Amigos da ciência e voluptuosidade,
Procuram o silêncio e o horror da escuridão;
O Érebo¹ os tomaria por seus em missão
Se a cabeça pudessem baixar na humildade.
Assumem a cismar as nobres posições
Das enormes esfinges em suas solidões,
Que parecem dormir num sonhar infindável;
Os seus fecundos rins fagulhas a lançar,
E parcelas de ouro, de areia impalpável,
Estrelam vagamente o seu místico olhar.
BAUDELAIRE, Charles. Flores do Mal. Tradução
de Mario Laranjeira. 2ª Reimpressão. Editora Martin Claret. São Paulo, 2014.
¹Na mitologia grega, Érebo, um dos filhos de Caos, é o
criador das Trevas, a personificação da escuridão. (N. do E.)
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