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quarta-feira, 29 de março de 2017

Spleen e Ideal - Charles Baudelaire.

LXXIV - O sino trincado

É amargo e é doce, em noites hibernais,
Escutar junto ao fogo que palpita e fuma,
As lembranças distantes voltarem iguais,
Ao som dos carrilhões cantando em meio à bruma.

Bem ditoso é o sino de voz rigorosa
Que muito embora idosa, é alerta e violenta,
E lança fielmente a prece religiosa,
Como um velho soldado a velar sob a tenda!

Eu, minha alma é fiel, se em tristezas perdida
Quer de cantos povoar das noites o ar gelado,
Acontece que às vezes sua voz combalida

Parece o estertor de um ferido largado
Junto a um lago de sangue, num monte de mortos,
E que morre, parado, em imensos esforços.

BAUDELAIRE, Charles. Flores do Mal. Tradução de Mario Laranjeira. 2ª Reimpressão. Editora Martin Claret. São Paulo, 2014.

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