LXXIII - O tonel do ódio
O Ódio é o tonel das Danaides¹ tão frias;
A Vingança lançada aos braços rubros, fortes,
Em vão tenta lançar em suas trevas vazias
Grandes baldes de sangue e lágrimas dos mortos.
O Diabo vem no abismo buracos cavar,
Por onde vão vazar mil anos de suores,
Ainda que soubesse as vítimas alçar,
E para as pressionar dar aos corpos calores.
O Ódio é como um ébrio ao fundo da taverna,
Que sempre sente a sede nascer do licor
E se multiplicar como a hidra de Lerna²
- Mas bêbados felizes sabem o vencedor,
E o ódio é votado a essa estranha crueza:
Jamais poder dormir por debaixo da mesa.
BAUDELAIRE, Charles. Flores do Mal. Tradução de Mario Laranjeira. 2ª Reimpressão. Editora Martin Claret. São Paulo, 2014.
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