LXIX – A música
A música, por vezes, me abraça qual mar
Rumo a branca estrela,
Sob um teto de bruma ou éter a brilhar,
Eu coloco à vela;
De peito para frente e de pulmões inflados
Qual se fosse uma tela,
Vou das ondas galgando o dorso encapelado
Que a noite me vela;
Em mim sinto vibrar todas essas paixões
De nau em cataclismo,
O bom vento, a borrasca e suas convulsões
Sobre o imenso abismo
Me embalam. Outras vezes, calmo, grande espelho
Do meu desespero!
BAUDELAIRE, Charles. Flores do Mal. Tradução
de Mario Laranjeira. 2ª Reimpressão. Editora Martin Claret. São Paulo, 2014.
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