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quarta-feira, 1 de fevereiro de 2017

Spleen e Ideal - Charles Baudelaire.

XVIII - O ideal

Jamais poderão ser as belezas chinfrins,
Produto sem valor de era que se perdeu
Dedos de castanholas, pés de borzeguins,
Que hão de satisfazer coração como o meu.

Deixo para Gavarni¹, poeta das cloroses,
Sua grei barulhenta, belas de hospital,
Pois não posso encontrar entre as pálidas rosas
Uma flor parecida ao meu umbro ideal.

O que em meu coração, no fundo, necessito,
Sois vós, Lady Macbeth, potente no delito,
Sonho de Ésquilo aberto dos suões ao açoite;

Ou tu, de Miguel Ângelo, a grande Noite,
Que torces calmamente, em poses bem estranhas,
Os teus dotes sem par dos Titãs nas entranhas.

BAUDELAIRE, Charles. Flores do Mal. Tradução de Mario Laranjeira. 2ª Reimpressão. Editora Martin Claret. São Paulo, 2014.

¹Paul Gavarni, pseudônimo de Guillaume Sulpice Chevalier (1804-1866), cartunista de grande sucesso nos círculos da época. Ilustrou romances de Balzac e Eugène Sue. (N. do E.)

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