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quarta-feira, 15 de fevereiro de 2017

Spleen e Ideal - Charles Baudelaire

XXXI - O vampiro

Tu que, qual fosse uma facada,
Entraste em minha alma chorosa;
Tu que, tão forte qual manada
De demos, vieste, louca e airosa,

De meu espírito humilhado
Fazer teu leito e possessão
- Infame a quem estou ligado
Como um galé ao seu grilhão,

Como ao jogo o homem viciado,
Como bêbado ao garrafão,
Vermes ao corpo já estragado
- Maldita sejas! Maldição!

Ao rápido gládio roguei
Me conquistasse a liberdade,
E ao cruel veneno implorei
Me ajudasse a fraca vontade.

Que pena! O gládio e o veneno
Com desdém disseram-me assim:
"Tu não mereces gesto ameno,
Terás cativeiro sem fim.

Ó imbecil! - se a nossa lida
Te livrasse de seu martírio,
Teus beijos iriam dar vida
Ao cadáver do teu vampiro!".

BAUDELAIRE, Charles. Flores do Mal. Tradução de Mario Laranjeira. 2ª Reimpressão. Editora Martin Claret. São Paulo, 2014.

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