Total de visualizações de página

quarta-feira, 15 de fevereiro de 2017

Spleen e Ideal - Charles Baudelaire.

XXXII

Uma noite estava eu junto à horrível judia,
Como ao pé de um cadáver estendido,
E pus-me a imaginar junto ao corpo vendido
Essa triste beleza de que eu prescindia.

Representei-me sua majestade nativa,
Seu olhar de vigor e de graça dotado,
Seus cabelos fazendo um elmo perfumado,
Cuja recordação ao amor me reaviva.

Pois tivera eu com ardor o teu corpo beijado,
E desde os frescos pés até as negras madeixas
Desfiado o tesouro de amorosas queixas,

De uma noite, num pranto fácil arranjado,
Ó das cruéis rainha, talvez poderias
Toldar esse esplendor de tuas pupilas frias.

BAUDELAIRE, Charles. Flores do Mal. Tradução de Mario Laranjeira. 2ª Reimpressão. Editora Martin Claret. São Paulo, 2014.

Nenhum comentário:

Postar um comentário