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quinta-feira, 23 de fevereiro de 2017

Semper eadem - Spleen e Ideal - Charles Baudelaire.

XL - Semper eadem¹

"De onde vem", dizíeis vós, "tristeza tamanha,
A subir como o mar negra rocha despida?"
 - Quando o coração fez sua colheita estranha,
Viver já é um mal, dor por nós conhecida.

Uma mágoa tão simples, nada misteriosa,
E, qual vossa alegria, pra todos patente,
Cessai, pois, de buscar, ó bela curiosa!
E mesmo tendo voz suave, sê silente!

Sê silente, ignorante! Alma sempre aturdida!
Boca de riso infante! Ainda mais que a Vida,
A morte nos segura em laço singular.

Deixai meu coração fartar-se de mentira,
Lançar-se em vosso olhar como em sonho se atira,
Sob esses vossos cílios sempre dormitar.

BAUDELAIRE, Charles. Flores do Mal. Tradução de Mario Laranjeira. 2ª Reimpressão. Editora Martin Claret. São Paulo, 2014.

1. Semper eadem: palavras latinas que podem estar no feminino singular - e nesse caso significariam "sempre a mesma", "sempre igual  a si mesma" -, ou podem estar no neutro plural, significando, então, "sempre as mesmas coisas". Ambas as interpretações cabem no contexto. (N. do T.)

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