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sexta-feira, 24 de fevereiro de 2017

Spleen e Ideal - Charles Baudelaire

XLI - Toda inteira

O Demônio nesta minha alta
Mansarda hoje veio me ver,
E tentando apanhar-me em falta,
Disse-me: "Eu queria saber,

Entre as coisas todas formosas,
De que se faz sua beleza,
Entre objetos negros ou rosa
Que lhe dão corpo de princesa,

Qual é o mais doce", - Ó minha alma!
Respondeste assim ao Bandido:
"Pois que em tudo ela tem a palma
Do belo, nada é preferido.

Quando a mente se enleia, ignora
Se alguma coisa me seduz.
Ela me ofusca como a Aurora
E consola em Noite sem luz;

E a harmonia é tão diferente,
Que lhe dá as formas esguias
Para que a análise impotente
Lhe note as muitas melodias.

Ó metamorfose divina
Que os meus sentidos todos une!
Seu hálito a música afina
Como sua voz faz o perfume!".

BAUDELAIRE, Charles. Flores do Mal. Tradução de Mario Laranjeira. 2ª Reimpressão. Editora Martin Claret. São Paulo, 2014.

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