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domingo, 12 de fevereiro de 2017

Spleen e Ideal - Charles Baudelaire

XXVI - Sed non satiata¹

Bizarra deidade, escura como as noites,
Com perfume mesclado de musgo e de havana,
Obra de algum obi², o Fausto da savana,
Bruxa de ébano, filha de vis meias-noites,

Eu prefiro ao Constância³, ao ópio, ao Noites4,
O elixir de tua boca onde o amor se engalana,
Quando os desejos meus vão a ti em caravana,
Teus olhos são remanso onde o meu tédio apoite.

Por esses olhos negros, respiros de tua alma,
Ó demônio impiedoso! A minha chama acalma;
O Estige5 eu não sou pra dar-te nove abraços,

Ai! Não tenho poder, Megera6 libertina,
Pra quebrar-te a coragem e embargar-te os passos,
No inferno do meu leito virar Proserpina7!

BAUDELAIRE, Charles. Flores do Mal. Tradução de Mario Laranjeira. 2ª Reimpressão. Editora Martin Claret. São Paulo, 2014.

¹Sed non satiata, latim, "mas não saciada". (N. do T.)
²Obi: sacerdote africano que pratica magia. É, também, um fruto africano considerado sagrado e largamente usado em rituais. (N. do E.)
³Constância( ou Constantia): vinho de sobremesa sul-africano, produzido com uvas cultivadas no distrito de Constantia, muito apreciado na Europa dos séculos XVIII E XIX. (N. do E.)
4Noites(Nuits):nome de um vinho da Borgonha, França. (N. do E.)
5O rio Estige é um dos rios de Hades, o mundo ctônio da mitologia grega. (N. do E.)
6Megera é uma das três Erínias da mitologia grega(ou Fúrias, na versão romana). (N. do E.)
7Proserpina: deusa romana, filha de Júpiter e Ceres, mulher de Plutão. (N. do E.)

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