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segunda-feira, 13 de fevereiro de 2017

Spleen e Ideal - Charles Baudelaire.

XXX - De profundis clamavi¹

Imploro a tua piedade, Tu, único amor,
Do escuro abismo em que caiu meu coração,
É um universo morno de plúmbeo desvão,
Onde nadam à noite a blasfêmia e o horror;

Sol falto de calor paira acima seis meses,
Noutro seis meses noite a terra vem toldar;
É um lugar mais nu do que a terra polar;
- Nem bichos, nem riachos, nem matas, nem messes!

Orá, não há horror nesse mundo maior
Que a fria crueldade de um sol sem calor
E esta imensa noite ao velho Caos igual;

Eu tenho inveja até desse vil animal
Que pode em sono estúpido até mergulhar,
Tão lenta é a meada do tempo a desafiar!

BAUDELAIRE, Charles. Flores do Mal. Tradução de Mario Laranjeira. 2ª Reimpressão. Editora Martin Claret. São Paulo, 2014.

¹De profundis, salmo 130, é um dos salmos penitenciais da igreja católica. A linha inteira do verso em latim é De profundis clamavi ad te, Domine, "Das profundezas clamo a ti, ó Senhor". (N. do T.)

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