Muito tempo habitei sob os pórticos altos
Que os sóis marinhos vinham tingir de mil fogos,
E em que grandes pilares, retos, majestosos,
À noite se faziam grutas de basalto.
As imagens do céu a rolas nos abrolhos
Mesclavam de maneira mística e solene
Os possantes acordes da música infrene
À cor do sol poente espelhada em meus olhos.
Foi ali que vivi nas volúpias mais calmas
No meio desse azul, das vagas, de esplendores
E dos escravos nus impregnados de odores,
Que a fronte, me abanando, esfriavam com palmas,
E que tinham por fim único aprofundar
O segredo dolente a gerar meu penar.
BAUDELAIRE, Charles. Flores do Mal. Tradução de Mario Laranjeira. 2ª Reimpressão. Editora Martin Claret. São Paulo, 2014.
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