VIII - A musa venal
Ó musa de minha alma, amante dos palácios,
Terás, quando janeiro lambe os Boreais,
Durante o negro tédio em noites hibernais,
Um tição para aquecer teus dois pés violáceos?
As marmóreas espáduas reanimarás
Na friagem noturna em frestas a passar?
Sentindo seca a bolsa e assim o paladar
Das cerúleas ogivas o ouro colherás?
Precisas, pra ganhar de cada noite o pão,
Tal como um coroinha, o turíbulo na mão,
Tantos Te Deum cantar sem mesmo acreditar.
Ou, palhaço em jejum, seus dotes exibidos
E teu riso molhado em pranto não sabido
Para desopilar o baço do vulgar.
BAUDELAIRE, Charles. Flores do Mal. Tradução de Mario Laranjeira. 2ª Reimpressão. Editora Martin Claret. São Paulo, 2014.
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