X - O Inimigo.
A mocidade foi-me uma borrasca escura,
Atravessada às vezes por sóis a brilhar;
Fizeram tal estrago o trovão e a chuva,
Que pouca fruta resta agora em meu pomar.
Eis que toquei enfim o outono das ideias,
E que a pá e o rastelo preciso empregar
Para junto de novo as terras de águas cheias
Onde vem como tumbas a chuva cavar.
E quem sabe se acaso de meu sonho a flor
Achará neste solo qual praia lavado
O místico alimento que lhe dá vigor?
- Ó dor! Ó grande dor! O tempo engole a vida,
E o Inimigo obscuro que a alma tem tragado
Do sangue que nos rouba cresce e se valida!
BAUDELAIRE, Charles. Flores do Mal. Tradução de Mario Laranjeira. 2ª Reimpressão. Editora Martin Claret. São Paulo, 2014.
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