IX - O mau monge
Os claustros do passado em muralhas esguias
A exibir em painéis a mais santa Verdade,
Cujo efeito, aquecendo as suas entranhas pias,
Temperava a frieza em sua austeridade.
No tempo em que de Cristo a messe florescia,
Mais de um ilustre monge, hoje na obscuridade,
Que do campo funéreo o ateliê fazia,
Glorificando a Morte com simplicidade.
- Minha alma é uma cova que, mau cenobita,
Desde a eternidade ela percorre e habita;
Nada enfeita as paredes do claustro de horror.
Ó monge sempre ocioso! Eu quando hei de saber
Fazer da viva cena do meu padecer
Meu trabalho das mãos, de meus olhos o amor?
BAUDELAIRE, Charles. Flores do Mal. Tradução de Mario Laranjeira. 2ª Reimpressão. Editora Martin Claret. São Paulo, 2014.
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