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segunda-feira, 23 de janeiro de 2017

Spleen e Ideal - Charles Baudelaire.

IX - O mau monge

Os claustros do passado em muralhas esguias
A exibir em painéis a mais santa Verdade,
Cujo efeito, aquecendo as suas entranhas pias,
Temperava a frieza em sua austeridade.

No tempo em que de Cristo a messe florescia,
Mais de um ilustre monge, hoje na obscuridade,
Que do campo funéreo o ateliê fazia,
Glorificando a Morte com simplicidade.

- Minha alma é uma cova que, mau cenobita,
Desde a eternidade ela percorre e habita;
Nada enfeita as paredes do claustro de horror.

Ó monge sempre ocioso! Eu quando hei de saber
Fazer da viva cena do meu padecer
Meu trabalho das mãos, de meus olhos o amor?


BAUDELAIRE, Charles. Flores do Mal. Tradução de Mario Laranjeira. 2ª Reimpressão. Editora Martin Claret. São Paulo, 2014.

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