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domingo, 9 de abril de 2017

Spleen e Ideal - Charles Baudelaire

LXXXI - Alquimia da dor

Um te aclama com seu ardor,
O outro em ti põe luto, Natura!
Este diz a um: Sepultura!
Ao outro diz: Vida e esplendor!

Hermes¹ ignoto que me assistes
E que sempre a mim intimidas,
Tu te tornas igual a Midas²,
O mais triste dos alquimistas;

Por ti transformo ouro em ferro
E o paraíso num inferno;
No grande sudário do espaço

Eu descubro um cadáver terno,
E em meio às nuvens do céu baço
Grandes sarcófagos eu faço.

BAUDELAIRE, Charles. Flores do Mal. Tradução de Mario Laranjeira. 2ª Reimpressão. Editora Martin Claret. São Paulo, 2014.

¹Hermes é um dos deuses olímpicos, cujos atributos estão associados às artes, à comunicação e à alquimia, entre outros. (N. do E.)
²Midas é o rei mitológico que recebeu de Dionísio (Baco, para os romanos) o dom de transformar em ouro tudo o que tocava, como recompensa por sua hospitalidade. O dom, porém, tornou-se-lhe uma maldição, e ele acabou pedindo ao deus que lho retirasse. (N. do E.)

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