XCII - Os cegos
Contemplai-os, minha alma; são mesmo horrorosos!
Iguais aos manequins; vagamente risíveis;
Singulares tais como sonâmbulos, terríveis;
Dardejam não sei onde os globos tenebrosos.
Seus olhos, de onde foi-se a faísca divina,
Como se olhassem longe, ficam levantados
Ao céu, nunca se veem, para o chão voltados,
Pender a sonhadora face que se inclina.
Atravessam assim o escuro ilimitado,
Esse irmão do silêncio eterno. Ó urbe!
Enquanto em torno a nós tu muges, ris e cantas,
Sedenta do prazer até a atrocidade,
Vê! Assim eu me arrasto! E, mais que eles toldado,
Digo: O que no céu buscam tantos cegos, tantos?
BAUDELAIRE, Charles. Flores do Mal. Tradução de Mario Laranjeira. 2ª Reimpressão. Editora Martin Claret. São Paulo, 2014.
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