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segunda-feira, 3 de abril de 2017

O gosto do nada - Spleen e Ideal - Charles Baudelaire

LXXX - O gosto do nada

Meu espírito, outrora ardoso em combate,
A Esperança, espora a incitar-te o ardor,
Não quer mais te picar! Deita-te sem pudor,
Velho corcel que em cada obstáculo bate.

Resigna-te, minha alma; dorme do sono bruto.

Espírito vencido, aguado! Pra ti nada
Errante, nem o amor tem gosto, nem a luta;
Adeus, cantos do cobre e suspiros da flauta!
Prazeres, não tenteis a alma triste e amuada!

A primavera amável perdeu sem odor!

E o Tempo a me engolir segundo por segundo,
Como uma imensa neve ao corpo enrijecido;
Contemplo do alto o globo em seu feitio rotundo,
E não busco em cabana um lugar protegido.

Avalanche, vais ter na queda me engolido?

BAUDELAIRE, Charles. Flores do Mal. Tradução de Mario Laranjeira. 2ª Reimpressão. Editora Martin Claret. São Paulo, 2014.

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