João Guimarães Rosa
João Guimarães Rosa nasceu em
27 de junho de 1908 em Cordisburgo, Minas Gerais. Desde cedo se interessou pelo
estudo, principalmente no estudo de línguas estrangeiras.
Iniciou-se
sozinho no estudo do francês. Um frade ensinou a ele o holandês e o ajudou a
seguir no estudo do francês. Após passar por alguns colégios, fixa-se em Belo
Horizonte, onde completa o curso secundário em uma escola de padres alemães.
Logo que ingressa, Guimarães Rosa começa o estudo de alemão. Ainda nessa
cidade, matricula-se na Faculdade de Medicina da Universidade de Minas Gerais,
em 1925. Nem tinha formado, quando em
1929, escreveu seus primeiros contos e deu início à sua carreira como
literário. Já a princípio, ganhou prêmio em dinheiro pelos tais contos, ao
participar de concurso oferecido pela revista “O Cruzeiro”. Nesse período, suas obras, apesar de premiadas, não
tinham a linguagem literária que representou um marco na literatura brasileira.
O texto de Guimarães Rosa
caracteriza-se pelo uso de inovações da linguagem, essas inovações da linguagem
são aclamadas pelas criações ou intervenções de vocábulos já existentes na
língua portuguesa, além da mistura entre língua popular e erudita, criando assim
a sensação de confusão por parte do leitor, o anacoluto.
Características de sua obra
Além das criações de palavras
(neologismos) podemos apontar outras características.
- Uso de aliterações e onomatopeias
no intuito de criar sonoridade
- Temas envolvendo destino, vida, morte, Deus.
- A língua falada no sertão está presente em sua obra (fruto de anotações e pesquisas lingüísticas).
- Temas envolvendo destino, vida, morte, Deus.
- A língua falada no sertão está presente em sua obra (fruto de anotações e pesquisas lingüísticas).
Guimarães Rosa utiliza termos que
não são mais usados, cria neologismos, faz empréstimos de palavras estrangeiras
e explora estruturas sintáticas para recriar e reinventar a língua portuguesa.
Além disso, Guimarães Rosa faz uso
do ritmo, aliterações, metáforas e imagens para criar uma prosa mais poética
ficando no limite entre a poesia e a prosa.
A obra de Guimarães Rosa
é extremamente inovadora e original. Havia o uso do neologismos em suas obras(a
arte de inventar palavras) que o autor utilizava em seu regionalismo,onde
descrevia o sertão mineiro representado principalmente pelos jagunços(bandos de
soldados,como os cangaceiros na Região Nordeste),saindo da linguagem
inteiramente cotidiana e do sertão ‘’superficial’’(as particularidades e
cotidiano de povo),para uma linguagem nutrida pela fusão da
erudição,modificando o regionalismo na literatura.
O regionalismo de Guimarães
Rosa pode ser classificado como universal, pois o sertão rosiano não é apenas
um simples sertão. O sertão rosiano é o próprio mundo dos personagens, não um
lugar que causa a miséria,a pobreza dos personagens como os de Graciliano
Ramos,e sim um lugar ideal para a reflexão psicológica dos personagens de Rosa
sobre o existencialismo da vida,sobre temas ambíguos que estão presentes em
todos os homens(como a existência do diabo,ou de Deus;). Ou seja, seus
personagens não serão enxergados apenas pelos seus costumes, e também pelos
seus conflitos internos e sentimentais. Com isso o sertão de Rosa será um universo
mítico e supersticioso, seus personagens terão crenças politeístas e serão
umbandistas e espíritas. A prosa se mistura com a poética através dos neologismos
e outros elementos da poética que Guimarães Rosa utilizou.
A Renovação da Linguagem
A renovação da linguagem na
obra de Guimarães Rosa vem para criar novas sensações, não apenas narrar o
fato, mas unindo a poesia, a prosa, a retórica, o informal e etc, e criando um
jogo de palavras que desperte o interesse do leitor para um novo estilo, um
estilo que Guimarães Rosa criou para dar vivacidade e dinamismo em sua
literatura. Rocha (2000) analisou por meio da gramática e o texto de Guimarães
Rosa o uso dessa nova linguagem, ele comenta que as regras gramaticais da nossa
língua bloqueiam alguns usos nos sufixos de vocábulos, por questão pragmática
como o uso de doleiro (sufixo “eiro”) e não o uso do sufixo “eiro” em iene, ou
por questão da já existência de outra palavra que substitua a nova criação.
Guimarães Rosa modifica os vocábulos já existentes na língua portuguesa para
dar ritmo, poesia e estilo. Sobre isso, Rocha diz:
Para tornar a sua língua mais
original e sedutora, Guimarães Rosa executa várias intervenções
morfo-cirúrgicas nas palavras que utiliza. Um dos artifícios mais instigantes e
revolucionários de que lança mão para a consecução desse objetivo é o
desbloqueio, como procuramos demonstrar. Desse modo, as palavras da prosa
rosiana recebem um toque mágico e passam a funcionar como guizos que tilintam
insistentemente, com o intuito de carrear a atenção do leitor para o espaço
específico de sua criação linguística. (ROCHA, 2000, p. 369).
Podemos comparar no conto
“Antiperipléia” de Tutaméia (1967) o uso da linguagem popular, erudita, a
criação desses novos vocábulos e a poesia em prosa:
Eu, bêbedo e franzino, ananho,
tenho de emendar a doideira e cegueira de todos?
Deixassem – e eu deduzia e
concertava. Mas ninguém espera a esperança. Vão ao estopim no fim, às tantas
desastrou, os outros agravam de especular e me afrontar, que me deparo, de
fecho para princípio, sem rio nem ponte.
Dia que deu má noite. Êle se
errou, beira o precipício, caindo e breu que falecendo. Não pode ter sido só
azares, cafifa? De ir solitário bravear, ciumado, boi em bufo, resvalou...
(ROSA, 1967, p. 15)
O termo “ananho” não é
conhecido da língua portuguesa, mas devido ao contexto de que o narrador
personagem se autocaracteriza, ele é “franzino”, franzino é um adjetivo que
pode se associar a outro adjetivo, tal ele é “anão”, a palavra “ananho” pode
ser uma modificação que Guimarães Rosa fez da palavra “anão” para dar um novo
ar de movimento a sua narrativa. O uso do anacoluto em “caindo e breu que
falecendo” simplesmente poderia ser usado na narrativa comum e de vocabulário
informal “caindo na escuridão e morrendo”, pode-se relacionar “breu” a
“falecendo”, já que a vida representa luz e a morte escuridão, tanto que essa
antecipação da morte ocorre em “Dia que deu má noite”, ou, “uma vida que teve
uma morte trágica”; o uso do anacoluto dá um sentido poético ao conto, e nesse
caso, afirma de forma concreta através da narração do fato sobre a antecipação
que a frase anterior disse em forma de símbolos, essa simbologia também dá
poesia ao texto.
A criação do estilo de
Guimarães Rosa é tão peculiar que para Antônio Cândido, Grande Sertão: Veredas contém:
...eu queria dizer que Grande sertão: veredas é desses livros
inesgotáveis, que podem ser lidos como se fossem uma porção de coisas: romance
de aventuras, análise da paixão amorosa, retrato original do sertão brasileiro,
invenção de um espaço quase mítico, chamada à realidade, fuga da realidade,
reflexão sobre o destino do homem, expressão de angústia metafísica, movimento
imponderável de carretilha entre real e fantástico e assim por diante.
Essas características também podem ser encontradas nas demais obras de
Guimarães Rosa, não só em Grande Sertão: Veredas.
O
universo mito poético em Guimarães Rosa
Em muitas obras de Guimarães
Rosa encontra-se a mistura de mito na estrutura do romance e a poesia, como
dito anteriormente. O mito na obra em geral rosiano vem como marca de seu
estilo, além do estilo expresso através da palavra, a construção do enredo é
também marca de seu estilo, ele se utiliza do mito para agregar estilo a sua
narrativa. Segundo Reinaldo (2000), Guimarães Rosa utiliza o mito através da
canção em Grande Sertão: Veredas, onde Siruiz atua como oráculo no começo do
romance, toda a passagem em que Siruiz aparece, ocorre sugestões que se
concretizam posteriormente, essas sugestões são captadas por Riobaldo em seu
subconsciente, tanto que depois de ouvir Siruiz cantar, Riobaldo decide fugir da
casa de Selorico Mendes e une-se aos jagunços e apaixona-se por Diadorim, seu
subconsciente capta a mensagem de oráculo que Siruiz faz e decide seguir a
previsão, essa busca pela concretização do destino é uma busca que o ser faz
para se auto descobrir também. Siruiz como oráculo, utiliza da palavra cantada
para dizer o destino de Riobaldo, a canção é caracterizada pela musicalidade da
poesia e eis que surge a canção. O mito vem por conta de obras já conhecidas,
onde os oráculos utilizavam de metáfora ou canção para sugerir o que sucederia
ao herói, essas sugestões sempre eram vagas e o herói deveria intepretá-las,
não apenas para conhecer seu futuro, mas para mergulhar dentro de si e se
interpretar, só através da experiência o herói consegue também conhecer a si
próprio.
Já no conto Nada e a nossa condição (1962), Faleiros
(2007) diz que o mito pode ser visto como a comparação do personagem Tio Man’Antônio com a fênix, onde a
personagem desenvolve sua riqueza através do trabalho em sua propriedade rural
e depois se desfaz do seu ganho através da doação da propriedade aos seus
empregados, isso pode-se chamar de transcendência, onde o ser abdica de tudo
para poder crescer espiritualmente, alcançar um novo patamar de existência, a
vida após a morte; a casa em chamas no final, representa a morte de Tio
Man’Antônio e sua transcendência de largar seu ultimo bem terreno e renascer no
céu. A poética fica por conta do estilo de Guimarães Rosa em sua composição
vocabular no conto, aliado as palavras sugestivas dentro da narrativa no mito
da fênix.
Referências:
ROCHA, Luiz Carlos de Assis. Guimarães Rosa: Criação lexical, bloqueio e
desbloqueio. Veredas de Rosa – Seminário Internacional Guimarães Rosa.
Organização: Lélia Parreira Duarte ET AL. Belo Horizonte: PUC Minas, CESPUC, 2000,
p. 364-370.
FALEIROS, Monica de Oliveira. A narrativa poética de Guimarães Rosa: Uma
leitura de “Nada e a nossa condição”. Itinerários, Araraquara, n.25, 2007,
p. 159-169.
ROSA, João Guimarães. Antiperipléia. Tutaméia – Terceiras
Estórias. Rio de Janeiro: editora José Olympio, 1967, p. 13-16.
GOMES, Cristiana. Guimarães Rosa. InfoEscola – Navegando
e aprendendo. Disponível em:
http://www.infoescola.com/literatura/guimaraes-rosa/
Acesso em: 02 nov. 2014.
João Guimarães Rosa – Biografia. Academia Brasileira de Letras. Disponível em: http://www.academia.org.br/abl/cgi/cgilua.exe/sys/start.htm?infoid=681&sid=96
Acesso em: 01 nov. 2014.
João Guimarães Rosa – Bibliografia. Academia Brasileira de Letras. Disponível em: http://www.academia.org.br/abl/cgi/cgilua.exe/sys/start.htm?infoid=683&sid=96
Acesso em: 01 nov. 2014.
Parabéns pelas informações sobre a linguagem em Guimarães Rosa explorada nas narrativas, apoiadas em neologismos compostos por palavras formadas por composição e derivação, atende necessidades específicas da língua sertaneja.
ResponderExcluirParabéns pelas informações sobre a linguagem em Guimarães Rosa explorada nas narrativas, apoiadas em neologismos compostos por palavras formadas por composição e derivação, atende necessidades específicas da língua sertaneja.
ResponderExcluirParabéns pelas informações sobre a linguagem em Guimarães Rosa explorada nas narrativas, apoiadas em neologismos compostos por palavras formadas por composição e derivação, atende necessidades específicas da língua sertaneja.
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