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sábado, 7 de janeiro de 2017

Spleen e Ideal - Charles Baudelaire

III – Elevação

Bem acima do vale, acima dos banhados,
Das montanhas, dos bosques, das nuvens, dos mares,
Além do sol, além dos etéreos lugares,
Bem além dos confins dos mundos estrelados,

Meu espírito, moves-te em agilidade,
E, como o nadador na onda vagabundo,
Trilhas alegremente o pélago profundo
Com macha e imbecil voluptuosidade.

Deixa ficar bem longe os miasmas deletérios
Vai te purificar no ares superiores,
E bebe como puros, divinos licores
O fogo que preenche os espaços etéreos.

Por trás dos dissabores e mágoas que temos
Que vergam com seu peso a existência brumosa,
Feliz de quem possui uma asa vigorosa
Para lançar-se aos campos claros e serenos;

Quem tem os pensamentos como a cotovia,
Que para os céus bem cedo o seu voo já estende,
- Quem plana sobre a vida e sem esforço entende
A linguagem da flor e do que silencia!


BAUDELAIRE, Charles. Flores do Mal. Tradução de Mario Laranjeira. 2ª Reimpressão. Editora Martin Claret. São Paulo, 2014.

sexta-feira, 6 de janeiro de 2017

Spleen e Ideal - Charles Baudalaire

II - O albatroz

Às vezes pra brincar os homens da equipagem
Prendem um albatroz, ave imensa dos mares,
Indolente a seguir amigo de viagem.
O barco a deslizar por salobros lugares.

Apenas colocados nas pranchas cinzentas,
Esse rei do infinito, acanhado, sem jeito,
Deixa pender as asas grandes e alvacentas

O viajor alado é canhestro e esquisito!
Ele, tão feio agora, há pouco lindo estava!
Um cutuca-lhe o bico com pequeno pito,
Outro imita, mancando, o coxo que voava!

O Poeta é assim como esse rei dos ares
Que frequenta a borrasca, do arqueiro a zombar;
Exilado no chão entre chistes vulgares,
As asas de gigante impedem-no de andar.

BAUDELAIRE, Charles. Flores do Mal. Tradução de Mario Laranjeira. 2ª Reimpressão. Editora Martin Claret. São Paulo, 2014.

quinta-feira, 5 de janeiro de 2017

Spleen e Ideal - Charles Baudelaire

I - Benção

Quando por decisão das potências supremas,
Vem o poeta a este mundo, enfastiado,
Sua mãe espantada e cheia de blasfêmias
Crispa o punho a Deus, que poe ela é tocado.

- Ah! por que não pari um rolo de serpentes,
Em vez de dar a luz tamanha derrisão!
Maldita seja a noite em gozo inconsequente
Quando gerou meu ventre a minha expiação!

Posto que me escolheste entre mulheres tantas
Para servir de opróbrio ao meu triste marido,
E que lançar não posso simplesmente às chamas,
Qual bilhete de amor, o monstro ressequido,

Farei jorrar tua ira em que estou oprimida
Sobre o instrumento mau dos teus atos malvados
E vou torcer tão forte essa árvore maldita
Que não mais nascerão seus brotos empesteados!

Ela volta a engolir da ira o caldo imundo,
E, como não entende os desígnios eternos,
Ela mesma prepara da Geena¹ ao fundo
As fogueiras votadas aos crimes maternos.

Entretanto, por Anjo invisível guardado,
O Filho deserdado de sol se embriaga,
E encontra a ambrosia e o néctar dourado
Em tudo o que ele come, e em tudo que ele traga,

Com a nuvem conversa e brinca com o vento,
Em meio à via sacra a cantar se inebria;
E o Espírito que o segue a seu vagar atento
Sofre de o ver cantar qual pássaro à porfia.

Todos que quer amar observam-no com medo,
Ou se valendo então de sua tranquilidade,
Disputam para ver quem lhe arranca um lamento
E experimentam nele a sua ferocidade.

Naquele vinho e pão que irão à sua boca
Misturam cinza junto aos impuros escarros:
Com muita hipocrisia lançam o que toca,
E se acusam por ter postos os pés em seus passos.

Sua mulher gritando o segue pelas praças:
Já que ele me acha bela e que mesmo me adora,
O serviço eu farei das antigas devassas,
Assim como elas quero algum enfeite agora.

E me embriagarei de nardo, incenso e mirra,
De mil genuflexões, de carnes e de vinhos,
Para ver se consigo em alguém que me admira
Usurpar a sorrir elogios divinos!

E quando me fartar dessas ímpias folias,
Pousarei sobre ele a forte e débil mão;
E as minhas unhas, como aquelas das harpias,
Acharão o caminho até seu coração.

Qual jovem passarinho a tremer que palpita,
Esse coração rubro arrancarei do peito.
E saciando essa minha besta favorita,
Vou atirá-lo ao chão com desdém, sem respeito!

Para o Céu, onde o seu olhar vê trono fúlgido,
O poeta sereno alça os olhos piedosos,
E esses vastos clarões do pensamento lúcido
Escondem-lhe a visão dos povos furiosos:

- Sê bendito, meu Deus, que dás o sofrimento
Qual divino remédio às impurezas tantas
E como o mais perfeito e o mais puro unguento
Que preparam o forte ás volúpias mais santas!

E sei que tu reservas lugas ao Poeta
Nas fileiras de escol das santas Legiões,
E que ele é convidado àquela eterna festa
Dos Tronos, das Virtudes, das Dominações.

Eu bem sei ser a dor a nobreza suprema
Que nunca morderão a terra e os infernos,
E que para tecer meu místico diadema
Hei que me impor ao tempo e aos universos eternos;

Mas as perdidas joias da antiga Palmira,
Os ignotos mentais, as pérolas do mar,
Por tua mão montados, nada bastaria
A esse diadema claro de ofuscar;

Pois ele será feito dessa luz primeira,
Vinda do santo lar dos raios primitivos,
De que os olhos mortais, em sua beleza inteira,
São apenas espelhos baços, cansativos!

BAUDELAIRE, Charles. Flores do Mal. Tradução de Mario Laranjeira. 2ª Reimpressão. Editora Martin Claret. São Paulo, 2014.

¹Geena: Estada reservada aos rejeitados, inferno; dor extrema. (N. do E.)

quarta-feira, 4 de janeiro de 2017

Poemas de Charles Baudelaire - Flores do Mal

Hoje postarei um poema de Charles Baudelaire, do qual, aprecio muito.
Estou lendo sua obra "Flores do Mal" do qual li alguns poemas alguns anos atrás e gostei muito.
Boa leitura e boa apreciação do poema.

Ao leitor

A estultícia, o engano, o pecado, a avareza.
Ocupam-nos a mente e os nossos corpos minam,
E remorsos amáveis nosso corpo animam,
Como o mendigo ao verme que ele tanto preza.

Nossos pecados são duros, tíbio o pesar,
Vendemos a alto preço as nossas confissões,
E voltamos com gozo aos barrentos rincões,
Com vis prantos achando as nódoas apagar.

Do mal no travesseiro é Satã Trimegistro
Que embala lentamente a nossa alma encantada,
E o tão rico metal da vontade enleada
Faz-se vapor na mão desse sábio alquimista.

O Demo é quem segura o fio que nos guia!
Achamos sedução nas coisas mais nojentas;
Sem horror, através das trevas fedorentas.
Pro Inferno um passo a mais nos leva a cada dia.

Qual pobre garanhão que devora na transa
De alguma velha puta o seio dolorido
Queremos de passagem prazer escondido
Que esprememos tal qual bagaço de laranja.

Cerrado, a formigar como um milhão de helmintos,
Um povo de Demônios folga em nossa mente,
E a Morte, ao respirarmos, no pulmão, fremente,
Desce, invisível rio, em queixume indistinto.

Se o estupro, o incêndio, o veneno, o punhal,
Não lhes bordaram inda em desenhos risonhos
O rascunho banal de seus fados tristonhos
É que nossa alma, é pena, a isso se presta.

Mas em meio às cadelas, onças e chacais,
Macacos, escorpiões, gaviões e serpentes,
Os monstros a ganir, rosnar, pelo chão rentes,
Na fauna infame e vil dos vícios ancestrais

Existe um mais feio, e maldoso, e imundo!
Embora sem fazer grandes gestos, gritar,
É capaz de em frangalho a terra transformar
E num só bocejar engoliria o mundo:

É o Tédio! - carregado o olhar de pranto vão,
Ao fumar seu cachimbo em sonhos mergulhado,
Tu conheces, leitor, tal monstro delicado,
- Hipócrita leitor - meu igual - meu irmão!

BAUDELAIRE, Charles. Flores do Mal. Tradução de Mario Laranjeira. 2ª Reimpressão. Editora Martin Claret. São Paulo, 2014.

Feliz 2017!

Boa noite, venho por meio desta publicação comunicar que logo mais o blog voltará á ativa.
Daqui a pouco vou fazer uma postagem e em breve vou postar um dos meus artigos mais recentes, para via de leitura.
Também estou terminando de ler o livro "A Ilha" de Aldous Huxley e quando possível escreverei uma resenha crítica e postarei aqui.
Boa noite e boa leitura.

segunda-feira, 25 de julho de 2016

Acervo

Boa noite, eu sei que abandonei este blog ás teias de aranhas,
Hoje venho com algo que provavelmente não é interessante, mas em breve prometo publicar 2 artigos que vou começar a trabalhar, um na área da dislexia e outro na área infantil, esses dois artigos serão frutos das pós graduações que estou realizando no momento, não é de meu interesse essas duas áreas, mas o professor tem que conhecer várias áreas para poder ser eficiente.
Também preciso recomeçar a postar resenhas críticas da qual gosto muito, mas pelo tempo que tenho é quase impossível.
Hoje trouxe a vocês meu acervo bibliográfico contabilizado, se vocês também quiserem sugerir algo, por favor.

Literatura em geral (romance, contos, peças teatrais, poesia, etc):
11-A Normalista – Adolfo Caminha.
22-Admirável Mundo Novo - Aldous Huxley
33-A ilha – Aldous Huxley.
44-O despertar do mundo novo - Aldous Huxley
55-A tulipa negra – Alexandre Dumas.
66-A dama das camélias - Alexandre Dumas Filho.
77-Eurico, o prebítero – Alexandre Herculano.
88-Sonetos de Shakespeare – Vários Autores.
99-Lira dos Vinte Anos – Álvares de Azevedo.
110- A pequena ilha – Andrea Levy.
111- Laranja Mecânica - Anthony Burguess.
112- Eu e outras poesias – Augusto dos Anjos.
113- Vermelho Amargo – Bartolomeu Campos de Queirós.
114- Espumas Flutuantes – Castro Alves.
115- As flores do mal – Charles Baudelaire.
116- Canção de Natal – Charles Dickens.
117- David Copperfield - Charles Dickens.
118- Amy Winehouse – Chas Newkey Burden.
119- Contos e Lendas da Mitologia Celta – Christian Léourier e Maurício Negro.
220- Últimos Sonetos – Cruz e Souza.
221- A divina comédia – Dante ......
222- O jardim secreto – Diane Ackerman.
223- Contos de Imaginação e Mistério – Edgar Allan Poe.
224- O corvo e suas traduções - Edgar Allan Poe.
225- Cyrano de Bergerac – Edmond Rostand.
226- Crime e Castigo – Fiodór Dostoiévski.
227- Noites Brancas - Fiodór Dostoiévski.
228- O idiota - Fiodór Dostoiévski.
229- Os Irmãos Karamázov - Fiodór Dostoiévski.
330- Carta ao pai – Franz Kafka.
331- 1984 – George Orwell.
332- Farsa de Inês Pereira, auto da barca do inferno, auto da alma, pranto de Maria Parda – Gil Vicente.
333- Poemas – Gonçalves Dias.
334- A tumba – H. P. Lovecraft.
335- A herdeira – Henry James.
336- Outra volta do parafuso – Henry James.
337- The portrait of a Lady – Henry James.
338- As aventuras de Robin Hood – Howard Pyle.
339- Rei Arthur e os cavaleiros da távola redonda - Howard Pyle.
440- Jim Morrison (por ele mesmo) – Jim Morrison.
441- A abadia de Northanger – Jane Austen.
442- Emma - Jane Austen.
443- Mansfield Park - Jane Austen.
444- Persuasão - Jane Austen.
445- Razão e sensibilidade, orgulho e preconceito, persuasão - Jane Austen.
446- Morte Súbita – J. K. Rowling.
447- O xangô de Baker Street – Jô Soares.
448- Ensaio sobre a lucidez – José Saramago.
449- Cinco Minutos – José de Alencar.
550- Beppo - Lord Byron.
551- Don Juan – Lord Byron.
552- Selected Poetry of Lord Byron – Lord Byron.
553- A asa esquerda do anjo – Lya Luft.
554- Dom Casmurro – Machado de Assis.
555- A noite da encruzilhada – Maigret Simenon.
556- A cinza das horas – Manuel Bandeira.
557- A arte da guerra – Maquiavél.
558- Tia Júlia e o escrevinhador – Maria Vargas Llosa.
559- Dom Quixote – Miguel de Cervantes.
660- A letra escarlate – Nathaniel Hawthorne.
661- Oscar Wilde (biografia) – Daniel Salvatori Schiffer.
662- Contos Completos – Oscar Wilde.
663- O retrato de Dorian Gray – Oscar Wilde.
664- Teatro completo – Oscar Wilde.
665- Dançando com o inimigo – Paul Glaser.
666- Doce Vingança – Regina Barreca.
667- O rei de amarelo – Robert W. Chamber.
668- Maquiavél, filósofo do poder – Ross King.
669- Coriandra – Sally Gardner.
770- As vinhas da ira – Steinbeck.
771- O corcunda de notre dame – Victor Hugo.
772- Os miseráveis – Victor Hugo.
773- A megera domada – William Shakespeare.
774- Inocência – Visconde de Taunay.

Livros: 74
Livros Lidos: 30

Livros que comecei a ler, mas não continuei: 9




Próxima vez trarei os demais que estão separados em mais duas divisões :D
Boa noite.

terça-feira, 10 de maio de 2016

Conduta frigida: manual de instruções.

Sua atenção fora captada,
mas pela pessoa errada,
você realmente provou meus olhares e eles foram tão frios...

Seu olhar melancólico e cansado
é isso o que eu mais gostei,
só os vi uma vez.
E ainda posso os ver.

Minha apatia continua a mesma
tentando esconder o que deve ser escondido.
Sentimentos são coisas destrutíveis,
Eu escolhi odiá-lo, para parar de amá-lo.
Destruir ao invés de construir.
Construir palavras.
Construir olhares.
Construir essências.

Isso se torna mais fácil,
mais fácil de não desejá-lo.

Ninguém consegue entender,
apenas ignoram
e galhofam do meu tipo.
Condição da qual sempre fui instruída a seguir.

Não conseguem ver?
São meros destruidores procurando ferir porque não conseguem olhar a própria dor
e chorar.